O DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS DE
LEITURA EM LÍNGUA INGLESA COM FOCO NO ENEM: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA
PEDAGÓGICA DO PIBID/UFPB
João
Francisco da Silva Neto
Universidade Federal da Paraíba
vilael@gmail.com
Introdução
A introdução da disciplina de língua estrangeira no Exame
Nacional do Ensino Médio a partir do ano de 2010 tem demandado dos alunos
concluintes e daqueles interessados em ingressar no universo acadêmico o
desenvolvimento de uma competência específica: a de interpretar textos em
língua estrangeira.
Os estudantes, estando ou não familiarizados com a língua
estrangeira de sua escolha, trazem consigo o estigma, mantido ao longo de
décadas, de que não se aprende inglês em sala de aula de escola regular. Este
estigma vem sendo enfrentado através de projetos como o PIBID e o PROLICEN, que
através de ações pedagógicas no âmbito das línguas estrangeiras, estimulam um
olhar crítico do estudante sobre as manifestações linguísticas através do
estudo dos gêneros textuais e a compreensão dos aspectos socioculturais como
veículos facilitadores de interação entre indivíduos em diferentes contextos.
Diante
dessa realidade, esse pôster apresenta e avalia uma experiência de docência
desenvolvida em uma escola de Ensino Fundamental e Médio da cidade de João
Pessoa, planejada como uma ação do subprojeto do PIBID Letras-Inglês da UFPB.
Essa experiência teve como foco o trabalho com estratégias de leitura com o objetivo
de preparar os alunos para lidar com leitura e interpretação de textos em
língua estrangeira presentes no Exame Nacional do Ensino Médio.
Metodologia
A experiência de docência que apresentamos ocorreu por um
período de 4 aulas, ministradas por um bolsista com base em uma cartilha
previamente preparada. Essas aulas foram planejadas para responder a uma demanda do subprojeto, já que os alunos
teriam que participar de um simulado no mês seguinte.
A análise consistirá na apresentação
de trechos dos relatos reflexivos sobre as aulas, especificados por DR1 (julho/2015),
DR2 (agosto/2015). Ao longo da apresentação das aulas desenvolvidas, alguns
comentários avaliativos serão articulados com base nos relatos reflexivos sobre
as aulas, elaborados pelo bolsista que as ministrou e autor desse trabalho.
O trabalho justifica-se pela
necessidade de compartilhar experiências de docência que podem contribuir para
uma ampliação dos conhecimentos pedagógicos de professores em formação em
outros contextos e, consequentemente, facilitar o processo de
ensino-aprendizagem de língua estrangeira para os alunos na escola, assim como
oportunizar um melhor desempenho desses alunos no ENEM.
Resultados e discussão
As estratégias de leitura para exames são ferramentas que
têm sido adotadas por um longo tempo e de eficácia comprovada. Segundo Santorum
& Scherer (2008). As estratégias de leitura são um grupo de ações que
auxiliam o trabalho pedagógico com a emoção, motivação, comportamento, atenção e
compreensão (WEINSTEIN & MEYER, 1986 apud SANTORUM & SCHERER, 2008), no
intuito de facilitar a compreensão textual. Dentre essas ações, destacam-se
técnicas de resgate de conhecimento prévio, identificação de palavras referenciais,
skimming e scanning.
A preparação para as questões de língua inglesa do ENEM requer
do professor que prepara estes candidatos, além de uma clara compreensão de
como estas estratégias funcionam, a familiaridade com a língua estrangeira e
suas particularidades, de forma a levar os alunos a irem além dos sentidos
literais e adotarem uma postura crítica em relação aos textos lidos. Ao mesmo
tempo, o ensino dessas estratégias e o processo de preparação de estudantes
para um exame que demanda competência em língua estrangeira devem ser
consideradas práticas geradoras de indivíduos críticos, dentro de um processo de
multiletramentos, devido ao fato de se trabalhar com gêneros diversos dentro de
outro gênero: a questão do exame. Esse
argumento encontra eco na afirmação de Koch e Elias (2006) que afirma o
seguinte:
A leitura é, pois,
uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos que se
realiza evidentemente com base nos elementos lingüísticos presentes na
superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de
um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo (p.11).
A constatação da complexidade de se trabalhar com uma
perspectiva que busca o desenvolvimento de estratégias de leitura com foco no
ENEM, e o estudo de diferentes gêneros textuais nos conduziu à decisão de
analisar este processo, avaliando as atividades desenvolvidas com base nos
planos de aula elaborados e nos relatos reflexivos sobre as aulas.
Nas primeiras intervenções realizadas
(antes da sequência de aulas aqui apresentada), eu trouxe aos alunos abordagens
lúdicas e de análise de gênero através de letras de música, com o propósito de
demonstrar o uso prático das estruturas com as quais os mesmos estavam em
contato em suas aulas com a professora-supervisora:
Este
momento, da forma como se deu, serviu como um warm up para o momento seguinte, que exigiria uma abertura por parte
dos alunos para encararem os conteúdos abordados com um olhar mais aprofundado (DR1,
Julho/2015).
O processo de planejamento e
elaboração dos recursos utilizados incluiu várias ações, desde a elaboração de
questões para um exercício simulado do ENEM a ser aplicado em setembro, a elaboração
de cartilha com estratégias de leitura, e o planejamento de aulas para explorar
coerentemente os recursos desenvolvidos.
Dentre as ações pensadas, a que
exigiu mais tempo e atenção foi a elaboração da cartilha. Finalizada a
cartilha, restava somente o planejamento das aulas.
Busquei
desenvolvê-las com momentos de construção de sentido, de acordo com o que sugere a taxonomia de Bloom, para quem devem
ser trabalhados subsequentemente a lembrança, o entendimento, aplicação,
análise, avaliação e criação (FERRAZ & BELHOT, 2010) (DR1, julho/2015).
Nas últimas quatro décadas o ensino
de leitura em língua estrangeira se apoiou em várias abordagens, de acordo com
Cavalcanti (1989, apud SOUSA & BASTOS, 2000): o modelo de Gough (1960, bottom-up), o modelo de Goodman (1970, top-down) e finalmente na década de 1980
o modelo interativo, que surge simultaneamente ao momento em que a abordagem
comunicativa deixa de ser o foco das discussões sobre ensino, em detrimento da
pedagogia crítica e do letramento crítico. Este último modelo vem ao encontro das
concepções de letramento crítico, ao considerar texto e leitor como aspectos de
igual influência no ato comunicativo, e ao valorizar aspectos psicológicos,
interacionais e sociais na construção de sentidos dos textos.
O
primeiro contato com os alunos teve como objetivo trazer para os alunos os
conceitos de tema e palavra-chave como também o que seriam habilidades e
estratégias de leitura. A aplicação da aula contou com uma recepção atenta dos
alunos e participação ativa nos momentos de análise de questões.
Embora os alunos não
fossem fluentes e contassem apenas com duas aulas semanais de língua inglesa, o
conhecimento dos conceitos de tema e palavra chave e como identificá-los nos
textos permitiu que suas respostas fossem equivalentes às respostas corretas
das questões, ou seja, a aula foi bem sucedida. (DR2, agosto/2015)
O segundo encontro buscou abordar o
papel da predição e para isso o resgate de conhecimento prévio foi o foco de
discussão com os alunos. Nesta aula, a principal discussão foi sobre o que
seria um gênero textual e quais suas variações do tipo verbal. Devido à
similaridade entre alguns termos em inglês e português, os alunos perceberam
quais seriam alguns dos gêneros apresentados na lousa.
... em virtude de alguns termos terem sido
incorporados ao cotidiano através da mídia local (como news – notícia - e cartoon
- cartum), a identificação dos gêneros foi facilitada, havendo estranhamento
somente sobre o que seriam strip (tirinha)
e quotation (citação). Para a análise
das questões, a identificação da estrutura de cada gênero facilitou o
reconhecimento das respostas corretas, de uma forma consciente e apoiada em
conhecimentos prévios da língua materna (DR2, agosto/2015)
O terceiro encontro retomou os
conceitos de tema e palavra-chave para abordar skimming (leitura rápida para identificação das ideias centrais) e
também trouxe a discussão scanning
(leitura destinada à identificação de informações específicas). Esta aula contou com uma abordagem um
pouco diferenciada, pois fiz uso de uma metáfora (skimmed Milk – leite desnatado), para explicar aos alunos o
conceito de skimming de forma mais
concreta. Devido à limitação do tempo da aula, somente foi possível fazer
análise das questões do capítulo da cartilha e não das questões extras que
sempre trago nas aulas. Mesmo assim, a participação dos alunos foi bastante
ativa e focada, demonstrando que entenderam a aplicação dos dois conceitos para
interpretar um texto, o que me fez sentir orgulhoso do trabalho com eles.
Definitivamente eu não estava construindo castelos em areia.
O
encontro final tinha como meta discutir inferência. Nele, explorei o gênero
textual letra de música. Entre todas as aulas planejadas para a preparação dos
alunos, esta foi a que mais se distanciou do plano inicial. Eu havia planejado
uma aula com vídeo e leitura de material impresso.
Algumas das questões
que eu havia selecionado para analise através de inferência também foram descartadas devido a dois
fatores: pouco tempo disponível, já que
a apresentação do vídeo se mostrou mais longa do que o necessário e também pelo
fato de estas questões já terem sido analisadas na intervenção de outros
bolsistas (DR2, agosto/2015)
É importante ressaltar que os
impedimentos para o sucesso dessa aula foram tanto de ordem pedagógica (vídeo
muito longo), como de ordem contextual (repetição de conteúdos e pouco tempo
disponível), e não diminuem o valor pedagógico das estratégias de leitura.
Conclusões
Concluo que embora tenha ocorrido um
pequeno desvio na aula final, de um forma geral, o objetivo das aulas foi
alcançado, ou seja, chegou ao conhecimento dos alunos o que seriam as
estratégias de leitura e mais importante, houve prática de utilização das
mesmas, inclusive com o desenvolvimento do senso crítico dos alunos em relação aos temas abordados e maior
desenvoltura na resolução de questões para o ENEM. Espero que, a partir dessa
experiência de aprendizagem, os alunos estejam mais confiantes e aptos a compreenderem
e se posicionarem criticamente em relação aos textos que forem objeto de
leitura no futuro, tanto no contexto de exames, como no mundo real.
Referências
BASTOS, Lúcia K. X.,
SOUZA, Patrícia Nora. O conhecimento
lexical no ensino da leitura em língua estrangeira. The ESP, São Paulo, vol. 22, nº 1 75-86. [Acesso em: 04 de abril
de 2015] Disponível em
:
FERRAZ, Ana Paula do
Carmo Marcheti e BELHOT, Renato Vairo. Taxonomia de Bloom: revisão teórica e
apresentação das adequações do instrumento para definição de objetivos
instrucionais. Gest. Prod., São
Carlos, v. 17, n. 2, p. 421-431, 2010. [Acesso em 05/08/2015] Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/gp/v17n2/a15v17n2.pdf
KOCH, Ingedore Villaça, ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto.
São Paulo: Contexto, 2006
PAZ,
Dioni Maria dos Santos. A teoria de Gough e o modelo ascendente de leitura,
2006. [Acesso em: 04 de abril de
2015]. Disponível em: <http://jararaca.ufsm.br/websites/l&c/download/Artigos/L&C_1S_06/DioniL&C2006.pdf>.
SANTORUM, Karen;
SCHERER, Lílian Cristine. O papel do ensino de estratégias para o
desenvolvimento da leitura em segunda língua (L2). ReVEL. Vol. 6, n. 11, agosto de 2008. ISSN 1678- 8931
[www.revel.inf.br].
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