quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Resumo expandido do Pôster: "Desafios do Letramento Crítico em Língua Inglesa: Linguístico Discursivo em segundo plano" para o Encontro Unificado da UFPB (ENID)


DESAFIOS DO LETRAMENTO CRÍTICO EM LÍNGUA INGLESA: LÍNGUÍSTICO DISCURSIVO EM SEGUNDO PLANO

Edilson Teixeira Barbosa Filho edilsonteixeira48@gmail.com; Giselle Ribeiro dos Santos Fernandes giselle.letras-ufpb@hotmail.com; Juliana de Souza Cavalcanti da Silveira julyscds@gmail.com ; Mariane Bezerra Maia maribm_12@hotmail.com; Thaís Alves Neves de Oliveira thaisanoliveira@gmail.com; Ana Maria Souza (supervisora) anamaria_asouza@hotmail.com;  Maura Regina Dourado (Coordenadora) mauradourado@hotmail.com

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-Letras/Inglês - UFPB


Introdução 
Na última década, com as Orientações Curriculares Nacionais para o ensino de língua inglesa no nível médio, as discussões na área de ensino de língua inglesa no Brasil têm, devido a sua importância inquestionável, se voltado, sobretudo, para a questão dos gêneros textuais e sequências didáticas  letramento, novos letramentos, multiletramentos e letramentos múltiplos, pouco, contudo, tem sido discutido sobre o papel do ensino da língua estrangeira numa proposta didática baseada em gêneros textuais, objetivando o letramento crítico e, por conseguinte, a educação linguística do aluno.
Na década de 90, os Parâmetros Curriculares Nacionais já preconizavam uma proposta de letramento crítico por meio de um ensino crítico centrado no uso da língua seguido de reflexão. Os documentos estaduais da Paraíba subscrevem essa proposta:
... cabe ao professor promover a oportunização de práticas de linguagem (orais, escritas e mediadas tanto na língua portuguesa quanto na língua estrangeira) [...] a partir dessa vivência realizada nas e pelas práticas de linguagem que a sistematização e reflexão sobre o uso da língua tornar-se-á possível e relevante. A capacidade linguístico-discursiva será construída a partir da reflexão sobre a língua em uso e não a partir de fórmulas e regras...
(PARAÍBA, 2010, p. 121)
O primeiro eixo – formas e usos – está relacionado com as modalidades da língua [...]. O segundo eixo envolve a reflexão/análise lingüística em torno de três aspectos [...].
(PARAÍBA, 2007, p.119)

Diferentemente do ensino normativo da/sobre a língua, centrado na gramática de frases artificiais, descontextualizadas e socialmente irrelevantes, que demanda saber sobre a língua, o letramento crítico combinado com a educação linguística demanda uso da língua em diferentes contextos de produção e conscientização sobre os efeitos de sentido criados na e pela língua, o que, por sua vez, requer, “a constituição de um conhecimento sistemático sobre a língua, tomada como objeto de análise, reflexão e investigação” (BAGNO, 2002, p.18).
O subprojeto Pibid Letras Inglês da UFPB propõe o ensino da língua inglesa da perspectiva do letramento crítico, objetivando o engajamento discursivo nas práticas de linguagem realizadas na e pela língua inglesa de forma crítica e responsável, dentro e fora do contexto escolar. Acredita-se que uma proposta de letramento crítico em língua inglesa só é possível de ser realizada na e pelo ensino crítico-reflexivo e situado da língua inglesa. Fazer uma proposta de ensino dessa envergadura tem trazido algumas dificuldades e desafios para um subgrupo de bolsistas do subprojeto PIBID-UFPB/Letras-Inglês. Este trabalho propõe-se evidenciar quais desafios se apresentam para os (07) bolsistas do subprojeto Letras-Inglês.
Teoricamente falando, acredita-se que os desafios enfrentados pelos bolsistas advém da familiaridade com a abordagem comunicativa, a qual difere da perspectiva de letramento crítico. De acordo com Tilio (2013), a abordagem comunicativa é um conjunto de procedimentos e metodologias que concebe a comunicação como um fim específico e tem como foco principal desenvolver as quatro habilidades do aluno (ler, escrever, ouvir e falar). Embora não se negligencie a necessidade de desenvolver as 4 habilidades linguísticas para que o aluno possa se comunicar na e pela língua estrangeira, argumenta-se que a abordagem comunicativa não se propões a ir para além das 4 habilidades, capacitando o aluno a pensar criticamente sobre a língua alvo, situada num contexto de produção, que leva em conta o que se diz, para quem se diz,  em qual circunstância nem, tampouco, os efeitos de sentido criados no e pelo uso da língua.
Diferentemente, uma perspectiva de ensino orientada pelos estudos de letramento objetivam transpor o desenvolvimento das 4 habilidades no ensino de língua estrangeira no contexto regular de ensino básico do Brasil. Tílio (2013) afirma que:
O conhecimento da língua extrapola as habilidades muitas vezes mecanicistas, de ler, escrever, falar e escutar.  O conhecimento da língua envolve capacidades de letramentos, entendidos como modos culturais de construir significados: ver, descrever, explicar, entender e pensar. (p. 62)

Metodologia
Esta pesquisa foi realizada no contexto das atividades do subprojeto Letras-Inglês. No conjunto das ações exigidas pela coordenação, está a elaboração de diários reflexivos mensais, que são registros escritos das experiências vividas pelos bolsistas. Esses diários são denominados ‘diários de formação’, pois contribuem para ressignificação das experiências vividas, que, no universo do subprojeto, envolvem observação e ministração de aulas solicitadas pelas professoras-supervisoras, elaboração e execução da proposta de letramento crítico na e pela língua inglesa, escolha de temas de relevância social, gêneros textuais e o linguístico-discursivo.
De caráter narrativo, diários de formação estabelecem o entrelaçamento fazer, dizer, pensar, repensar, refletir por meio da retomada da experiência docente vivida. É a análise das escolhas linguísticas, realizadas conscientemente ou inconscientemente pelos bolsistas, que confere à pesquisa sua natureza interpretativista. Afinal, os  autores se debruçaram sobre os diários e, consequentemente, as “inserções subjetivas e valorativas de quem os escreve” (DORNELLES; IRALA,  2013, p.20) para, então, interpretar o que percebemos como sendo dificuldades e desafios com o ensino da língua na execução de uma proposta de letramento crítico na língua inglesa.
O corpus da pesquisa consiste de 15 diários de formação de sete (07) bolsistas. Foi realizada uma buscas manuais e computacionais de indícios linguísticos que representassem dificuldades de desafios com o ensino e o trabalho com a língua alvo.

Análise
Trabalhar língua como prática social numa proposta de letramento crítico envolve um ensino de língua que “seja relevante para a realidade do aluno, ou seja, a partir de temas relevantes, capacitá-lo para agir no mundo, integrando-o, transformando-o” (TÍLIO, 2013, p. 55). Alguns exemplos ilustram como os bolsistas constroem esse desafio
Porém, percebi que eu e minha dupla tivemos muita dificuldade em contemplar o letramento crítico durante o planejamento (ou contemplávamos de forma chata e cansativa ou não contemplávamos de forma alguma).....(PF1, diário de formação, Fevereiro /2015)

Eu, sinceramente, estou tendo dificuldades de juntar tudo, quando penso muito em uma coisa, automaticamente, esqueço outra. Acreditava que a nossa aula (minha dupla) além de não contemplar o letramento critico, estava deixando o inglês em segundo plano e estavam mais voltadas para a reflexão e construção de sentido e isso me deixava mal. (PF1, diário de formação, Mês Junho /2015)
No primeiro excerto, PF1 relata a dificuldade em planejar as aulas de forma a abordar o letramento crítico aliado à língua inglesa. Essa dificuldade se deve à falta de experiência de PF1 em relação a essa abordagem crítica dentro da sala de aula, tanto em sua experiência como professor em formação quanto em sua experiência como aluno.
No segundo excerto, PF1 descreve uma problemática relacionada à sobrecarga cognitiva que o levou a esquecer de determinados passos a serem realizados na aula. A aula em questão se resumiu apenas ao letramento crítico, muito embora o bolsista tenha permanecido ao final de sua reflexão em dúvida acerca desse fato, e deixou o trabalho com a língua para outro momento. Portanto, vemos que o letramento crítico e a língua inglesa inicialmente são pensados juntos para a sala de aula, mas acontecem em diferentes momentos desta e muitas vezes não chegam a acontecer. Ainda com relação a essa dificuldade, temos o relato de PF4, o qual mostra a reflexão do próprio bolsista na tentativa de atrelar o letramento crítico e o linguístico discursivo.
Outro obstáculo que terei que superar é em relação à elaboração de planos de aula. Nunca pensei que fosse tão complicado preparar uma aula que inclua o letramento crítico da forma que a coordenadora quer. Às vezes eu não sei que direção seguir, é complicado, eu fico meio perdida. Além disso, temos que trabalhar o linguístico discursivo, acho que esse é o grande problema. É muito difícil fazer tudo isso. (PF4, diário reflexivo fevereiro/2015)
No próximo fragmento, PF6 relata uma aula que foi elaborada com o foco tanto no letramento crítico quanto no linguístico discursivo com uma temática sobre estereótipos de gênero por meio de comparações. Porém, surgiram brechas (DUBOC, 2012) durante a discussão sobre gênero, os bolsistas tiveram dificuldade em lidar e aproveitar essas brechas, isso faz com que o linguístico discursivo fique de lado e a aula torna-se inteiramente voltada para letramento crítico e discussões acerca do tema:
Desde que entrei para o projeto, o assunto letramento crítico não sai do nosso contexto nem na nossa cabeça enquanto estamos ainda planejando nossas aulas. O foco no letramento crítico é tão grande, que muitas vezes ele é mais discutido nas aulas do que mesmo a língua (…). Nesse caso em especial, o assunto meio que merecia uma atenção maior nesse sentido crítico, mas o que aconteceu foi que a aula passou um pouco longe de uma aula de inglês. Afinal, onde estava o inglês?  (PF6 diário mensal julho/2015)
Esse é um exemplo em que os bolsistas do subprojeto aproximam-se do trabalho de letramento crítico na língua materna a partir do conhecimento de mundo do aluno e não do texto de partida, oral ou escrito, na língua alvo. São nesses momentos, em várias aulas ou nos planos de aula, que se torna evidente que os bolsistas esquecem, por vezes, o protagonismo da língua inglesa e a função que eles têm de desenvolver visão e posicionamento crítico a partir do ensino da língua estrangeira.
Outras questões que desafiam a plena realização da proposta de letramento crítico envolvem a compreensão do papel da língua na referida proposta, o que demanda base sólida na concepção de língua como prática social e do próprio conceito de letramento crítico.  O próximo excerto exemplifica essa questão:
 “Na segunda semana nos foram dados textos que me fizeram refletir sobre tudo que eu vi até agora no projeto, pude perceber que, na minha cabeça conceitos como “letramento crítico” e “lingüístico discursivo” ainda parecem um tanto quanto abstratos. Chega até ser engraçado, mas não consigo definir com precisão do que se trata.” (PF3 /diário de formação/02/2015)
Outra questão relaciona-se ao tempo da hora-aula de língua estrangeira, como exemplificado a seguir:
(...) foram tantas observações feitas nessa aula apesar do pouco tempo que ela durou, que retornamos na quinta aula para concluir o assunto gramatical que ficou faltando.” (PF6, diário mensal julho/2015)
Bem, essa foi a aula mais rápida que eu já dei em minha vida. Como nós entramos uns 10 minutos depois do sinal, já que era a primeira aula, e levamos quase uns 10 minutos para montar o projetor e tal, nos restou no máximo 30 minutos para nos virarmos  (...) (PF4, diário mensal agosto/2015)
Trabalhar com LC e LD em uma sala de ensino médio, com 40 alunos e com 45 minutos de aula é quase impossível. (PF4, diário mensal junho/2015)

Considerações finais
A transposição da proposta de letramento crítico na e pela língua inglesa, defendida pelos documentos oficiais estaduais e encampada pelo subprojeto Letras Inglês, vem desafiando não apenas os bolsistas participantes desta pesquisa, mas todos os bolsistas envolvidos com o ensino médio. Atribuímos parte das dificuldades enfrentadas pelos bolsistas à formação inicial, que ainda adota a abordagem comunicativa para formar usuários da língua, proficientes nas quatro habilidades, negligenciando a formação linguística necessária ao professor de uma proposta de letramento crítico.

Referências
Bagno, M. A invevitável travessia: da prescrição gramatical à educação linguística. In : Bagno, M., Gagné, G., Stubbs, M. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo : Parábola, 2002, p. 13-84.
DORNELLES, C.; IRALA, V. O diário de formação em um programa de iniciação à docência: imaginários e dilemas dos escreventes. In REICHMANN, C. Diários reflexivos de professores de línguas: ensinar, escrever, refazer(-se). Campinas: Pontes, 2013.p. 17-38
DUBOC, A. P. Letramento Crítico nas brechas da sala de línguas estrangeiras. In.: TAKAKI, N. H.; MACIEL, R. F. (Orgs.). Letramentos em terra de Paulo Freire. Campinas, SP: Pontes Editores, 2014.
TILIO, R. Repensando a abordagem comunicativa: multiletramentos em uma abordagem consciente e conscientizadora. In ROCHA, C.; MACIEL, R. Língua estrangeira e formação cidadã: por entre discursos e práticas. Campinas: Pontes, 2013, p. 51-67.
PARAÍBA (Estado) Secretaria de Educação.  Coordenação do Ensino Médio. Referenciais Curriculares para o Ensino Médio da Paraíba. Conhecimentos de Língua Estrangeira. João Pessoa: A união, 2007.
PARAÍBA (Estado) Secretaria de Educação. (2010). Coordenação do Ensino Fundamental. Referenciais Curriculares para o Ensino Fundamental da Paraíba. Conhecimentos de Língua Estrangeira. João Pessoa: Grafset.



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